O que é a terapia ocupacional? O que se faz? Quem deve recorrer esta terapia?
Em muitos casos a resposta não surge de forma imediata. A verdade é que, apesar de ser uma abordagem terapêutica em expansão em todo o mundo e cuja eficácia tem vindo a ganhar reconhecimento, em Portugal, poucas são as pessoas que conhecem este tipo de terapia.
A Terapia Ocupacional é uma área da saúde que atua no tratamento e reabilitação de pessoas de todas as idades. O seu objetivo é facilitar e capacitar a realização das atividades do dia-a-dia que as mesmas deixaram de poder fazer por força de alguma condição clínica (motora, cognitiva, emocional ou social).
Essas condições podem estar presentes desde o nascimento, serem desenvolvidas com a idade ou resultarem de acidente, doença ou lesão.
O Terapeuta Ocupacional pode aplicar a sua abordagem em diversas áreas, como:
- Pediatria (casos de atraso global do desenvolvimento, síndrome de down, paralisia cerebral, autismo…)
- Medicina física e reabilitação (casos de AVC, quadros neurológicos e ortopédicos…)
- Geriatria (problemáticas específicas do envelhecimento, alzheimer e outros quadros demenciais, Parkinson…)
- Psiquiatria (esquizofrenia, doença bipolar, depressão…).
Terapia ocupacional: Quais os principais objetivos
Devido à diversidade de população e de quadros clínicos abrangidos pelo acompanhamento prestado pelos Terapeutas Ocupacionais, estes podem intervir nos mais diversos locais, tais como:
- Clínicas de Reabilitação
- Clínicas de Saúde Mental
- Creches
- Jardins-de-infância
- Escolas
- Clínicas Médicas
- Domicílios
- Hospitais
- Centros de saúde
- Centros de dia
- Lares
- Empresas de Produtos de Apoio e Ajudas técnicas e outras;
- Instituições particulares de solidariedade social (IPSS)
- Cooperativas de Ensino e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados (CERCI)
- Associações Portuguesas de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM)
- Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral (APPC)
O objetivo da terapia ocupacional desenvolvida por estes profissionais de saúde passa por encontrar meios para que as pessoas alcancem a sua autonomia e independência e possam utilizar ao máximo as suas potencialidades.
Nesse sentido, o Terapeuta avalia as atividades que a pessoa não consegue realizar, olhando para todos os aspetos da sua vida diária (casa, escola, trabalho, lazer). O intuito é encontrar soluções para que possa aumentar a autonomia e independência.
Simultaneamente compreende e analisa quais são as estruturas e/ou funções que estão a limitar o desempenho do paciente. Assim, procede-se à construção de um plano de intervenção adequado, individualizado e verdadeiramente personalizado.
A intervenção do Terapeuta Ocupacional assenta principalmente no recurso a atividades/ocupações significativas com o intuito de restaurar ou manter funções.
Através dessa abordagem é possível estimular e desenvolver competências. Simultaneamente desperta o interesse e participação do paciente para ter parte ativa no seu próprio processo de reabilitação.
Outros aspetos centrais na intervenção do Terapeuta Ocupacional são:
- O treino de atividades da vida diária consideradas problemáticas pelo utente
- Adaptação de utensílios e de mobiliário,
- Aconselhamento de mudanças no ambiente onde a pessoa realiza as suas atividades,
- Orientação de cuidadores
Alguns exemplos de intervenção de terapia ocupacional
Deixo apenas três exemplos práticos da intervenção do Terapeuta Ocupacional com grupos populacionais distintos:
- Crianças com perturbação do espectro de autismo
- Doentes em recuperação de Acidente Vascular Cerebral (AVC)
- Pessoas com depressão
1 – Crianças com perturbação do espectro de autismo
A Terapia Ocupacional pode ajudar crianças com perturbação do espectro do autismo.
Esse apoio é feito através da utilização de ferramenta terapêutica jogos/brincadeiras cuidadosamente selecionados para permitir o desenvolvimento das competências físicas, mentais, percetivas e sensoriais.
Além disso, aplicam-se técnicas que ajudam estas crianças a tornarem-se mais confortáveis com novas experiências sensoriais. E, falamos de imagens, sons, cheiros, paladar, movimentos…
A intervenção com estes casos objetiva ajudar as crianças a realizar as atividades importantes para o seu desenvolvimento. Falamos nomeadamente, na participação nos autocuidados, no brincar e na vida escolar.
Por outro lado, realizar o treino de determinadas atividades consideradas problemáticas para a criança, dividir as tarefas em passos simples e introduzir pistas/lembretes, são algumas estratégias implementadas.
2 – Doentes em recuperação de Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Nos casos de pessoas com sequelas de AVC a terapia ocupacional utiliza atividades significativas.
As mesmas estimulam o aumento de força, a mobilidade, o equilíbrio, as funções cognitivas… O intuito é restaurar a funcionalidade e a autonomia, mantendo a motivação do paciente durante o processo de reabilitação.
Não menos importante é o ensinamento de estratégias e o aconselhamento de equipamentos para que o paciente consiga realizar as atividades de forma independente.
As estratégias podem incluir técnicas de uso de apenas uma mão para cortar alimentos, usar o computador, vestir. Já os equipamentos poderão ser, a título de exemplo, calçadeiras com cabo engrossado, barras de apoio para o banho, entre outras.
3 – Pessoas com depressão
Relativamente a pessoas que sofrem de depressão, estas poderão ter dificuldades em manter as suas atividades diárias.
O Terapeuta Ocupacional vai orientá-las na procura por um equilíbrio entre as várias áreas da vida (trabalho, lazer e autocuidados).
Cabe então ao Terapeuta Ocupacional examinar o que está a interferir no desempenho da pessoa (diminuição de interesses, dificuldades nas competências sociais…).
Um papel cuja perda tem um grande impacto na vida ocupacional de uma pessoa com depressão é o de trabalhador.
Nestes casos (perda do emprego), a intervenção poderá assentar na implementação de estratégias como:
- Criação de um plano de procura de emprego
- Criação de currículo
- Treino de entrevista de emprego
O objetivo é reabilitar a pessoa, não só para o mercado de trabalho, mas para o controlo da sua própria vida.
Se gostaria de saber mais acerca da Terapia Ocupacional e se o seu caso, do seu filho, ou de um familiar, se enquadra no que acaba de ler, não hesite em contactar um profissional. E não se esqueça, Terapia Ocupacional só com um Terapeuta Ocupacional!
Artigo Publicado no Portal InspireSaúde Autor: Terapeuta Ocupacional Margarida Sabino