Enquanto terapeuta da fala e coordenadora de uma equipa que trabalha com desenvolvimento infantil lido há muitos anos com crianças prematuras para as quais a terapia da fala, terapia ocupacional, fisioterapia e psicologia são respostas cruciais para promover o seu desenvolvimento.
São comuns, por exemplo, alterações ao nível da alimentação (desde a amamentação à introdução de sólidos), desenvolvimento motor, brincar, sono…
Pois bem, lidar com famílias e crianças com estes desafios era para mim natural mas quando nos “toca a nós” tudo muda. Quando se pensa um filho, pensa-se uma gravidez sem percalços, um plano bem delineado, tudo de acordo com o planeado.
Há quase 3 anos e meio aprendi que controlamos muito pouco e que damos tanta importância a coisas que não a merecem, mudei a minha perspetiva e mudou para sempre a minha vida.
Depois de um repouso forçado desde as 25 semanas, o meu Pedro não quis esperar mais e chegou às 34 semanas para passar a ser o centro do meu universo. Ficou comigo e mamou com vontade, adormeceu mas depois veio a dificuldade respiratória e levaram-no… fiquei sozinha… Nessa noite tive todo o apoio das enfermeiras, ajudaram-me no banho e assim que foi possível levaram-me à neo (neonatologia para quem não passou por lá, neo para os pais mais íntimos) … foram horas de espera porque entretanto foi admitido outro bebé e nós, pais de neo, sabemos que nesses momentos a unidade pára para receber mais um pequenino ser que já tem que lutar logo ao nascer!
Chorei, chorei muito, chorei tanto, nesse dia e nos 15 dias que se seguiram, uma eternidade que não parecia ter fim… a minha alta sem bebé, as viagens para o hospital, as máquinas, os barulhos, a dependência dos monitores, a constante preocupação com todos os sinais e como iríamos em casa perceber se estava tudo bem, o banho, a muda da fralda (e a perícia necessária para conseguir fazê-lo dentro de uma incubadora), as pesagens do Pedro e de todas as fraldas…
Foi na manhã do primeiro dia de Primavera de 2015 que nos disseram, inesperadamente, que era esse o dia em que podíamos levar o nosso pequenino Pedro para casa, não nos despedimos sequer convenientemente dos outros pais, não ficamos com contactos (quase como que apagando aquele período, mesmo tendo sofrido por cada bebé que tinha mais uma complicação), tal foi a emoção daquele dia tão aguardado e que parecia mentira ter chegado. Tivemos medo, claro que sim, tanto, mas foi finalmente o nosso início a 3 adiado pelo que pareceu para nós uma eternidade.
Na altura sofri muito pelo que estava a acontecer, hoje acredito plenamente que nada acontece por acaso e aquela prova fez-me perceber o caminho que quero seguir, sem dúvida o caminho felicidade.
Hoje acolho ainda com mais carinho cada família que nos chega com uma história de prematuridade e vivo como se fosse do meu filho cada conquista que se segue. Juntos somos mais fortes e quando profissionais e pais se unem conseguimos, sem dúvida, muito mais. Caminhamos juntos, um passinho de cada vez mas vamos chegar longe.