Hoje, dia 29 de Outubro assinala-se o Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral. Serve este dia para assinalar e alertar todos para uma das principais causas de morte e incapacidade em Portugal. Segundo dados da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, uma em cada seis pessoas em todo o Mundo irá sofrer um AVC ao longo da sua vida. Dados relativos ao ano de 2012 indicam-nos, ainda, que cerca de 15,9% dos homens e 23,3% das mulheres com AVC acabaram por falecer (OMS, 2012), números que nos deverão alertar para a necessidade de conhecer os sinais de alerta e procedimentos perante uma pessoa que está a ter um AVC.
Assim, e de uma forma bastante sucinta destacam-se como sinais de alerta:
– Desvio da face (boca ao lado);
– Falta de força no/nos membro/os;
– Dificuldade em falar ou discurso confuso.
Após identificação de um ou mais destes sinais de alerta torna-se de extrema importância o pedido de ajuda médica contactando o 112 e respondendo calmamente às perguntas colocadas. Em seguida o indivíduo será encaminhado para a unidade AVC mais próxima, onde deverão dar início a todos os atos médicos necessários. Importa referir que é crucial que este processo não demore mais do que três horas, para que possam ser acionados os procedimentos atempadamente de forma a evitar sequelas.
De ressalvar que o AVC é uma doença passível de tratamento e prevenção, adotando estilos de vida mais saudáveis. Contudo, continua a ser um dos grandes flagelos da humanidade.
Após a ocorrência de um AVC o indivíduo poderá ficar com sequelas em várias áreas, como sendo:
– Motoras (falta de força num dos lados do corpo…);
– Emocionais (isolamento, depressão, agressividade…);
– Neurológicas (dificuldade em articular corretamente os sons, dificuldade na mastigação e/ou deglutição, perda de memória, afasia…).
A afasia é uma perturbação da linguagem, altamente incapacitante, resultante de uma lesão cerebral (AVC, por exemplo) localizada nas estruturas que se supõe estarem envolvidas no processo da linguagem. Esta patologia provoca uma alteração na capacidade de utilizar a linguagem, e consequentemente, um défice na comunicação verbal.
De acordo estudos realizados, considera-se que a linguagem se localiza no hemisfério cerebral esquerdo, de forma que, quando ocorre um AVC nesse mesmo hemisfério é bastante comum o indivíduo apresentar afasia como sequela.
Torna-se importante referir que, consoante a localização da lesão, podemos verificar diferentes níveis de perturbação. Assim, para classificarmos uma afasia temos de avaliar quatro campos: (1) a fluência do discurso, (2) a nomeação, (3) a compreensão e (4) a repetição. Consoante estas estejam ou não perturbadas, é possível determinar o tipo de afasia em causa. No entanto, em todas elas, a capacidade de nomeação encontra-se perturbada, apresentando os indivíduos dificuldade em lembrar os nomes das coisas. Existem oito tipos de afasias, sendo elas:
– Anómica (discurso fluente, compreensão e repetição mantida);
– Condução (discurso fluente, compreensão mantida e repetição perturbada);
– Transcortical Sensorial (discurso fluente, compreensão perturbada e repetição mantida);
– Wernicke (discurso fluente, compreensão e repetição perturbadas);
– Transcortical motora (discurso não fluente, compreensão e repetição mantidas);
– Broca (discurso não fluente, compreensão mantida e repetição perturbada);
– Transcortical mista (discurso não fluente; compreensão perturbada e repetição mantida);
– Global (discurso não fluente, compreensão e repetição perturbadas).
Estas alterações da comunicação podem, na maioria das vezes, incapacitar o indivíduo de manter uma conversa sem receios, podendo levar a consequências graves, não só ao nível da comunicação, como também a nível psicológico (depressão, confusão, labilidade emocional, isolamento e comportamentos agressivos), social (alteração dos hobbies, diminuição da vida social, dificuldade em ser compreendido pelo grupo de amigos) e da autonomia (na maioria dos casos o utente passa por um período de dependência de terceiros para a realização das atividades quotidianas).
No que diz respeito à comunicação, é usual que os indivíduos revelem dificuldade em expressar os sentimentos através da fala, dificuldade em compreender o conteúdo verbal ouvido, dificuldade ao nível da leitura, escrita, cálculo e frustração nos momentos de incompreensão por parte de terceiros. Muitos indivíduos com afasia acabam por referir que se sentem presos dentro do seu próprio corpo porque sabem o que querem dizer, contudo, no momento de expressar o sentimento/necessidade, acabam por não o conseguir fazer.
Assim, é possível compreender a forma como esta patologia afeta o quotidiano dos indivíduos, sendo de extrema importância a intervenção o mais brevemente possível. É da competência do Terapeuta da Fala avaliar e intervir nesta patologia, iniciando a sua intervenção pela avaliação das capacidades mantidas e perturbadas com recurso a baterias de avaliação aferidas e validadas para a população em questão, e consequente classificação da afasia.
Posteriormente será estabelecido um plano de intervenção, cujo objetivo primordial será a promoção da comunicação, seja ela oral, escrita ou sustentada por meios de comunicação alterativa (ex.: computador com software especializado). É de crucial importância que a terapia seja totalmente centrada no utente e adaptada às suas características e gostos. Desta forma, a intervenção terá um grau de complexidade crescente, tornando a reabilitação mais eficaz e personalizada.
No que diz respeito ao prognóstico, este dependerá de diversos fatores tais como a idade, lateralidade, género, escolaridade, motivação, localização e extensão da lesão, tempo de evolução, etiologia (causa da afasia) e patologias associadas. Perante todos estes fatores, poder-se-á formular o prognóstico, e assim ajudar a minimizar a ansiedades e expectativas dos familiares e utentes.
Tal como em muitas outras patologias, na afasia é crucial o apoio dos familiares, visto tratar-se de uma patologia com várias implicações. O utente deve sentir-se compreendido e apoiado pela família, tendo o Terapeuta da Fala o dever de informar todos acerca de todo o processo terapêutico, envolvendo-os na intervenção e facultando estratégias que visem minimizar as barreiras de comunicação. As estratégias a adotar dependem sempre do quadro apresentado. Assim, é fundamental, perante um quadro de dificuldade comunicativo-linguística resultante de AVC, procurar ajuda especializada tão breve quanto possível.